terça-feira, 2 de junho de 2009

Clarice Lispector

Analise do texto...
Eu me sentia sofia...



Os desastres de Sofia

Sofia era uma menina confusa e sem candura e extremamente intrigante. Atraída pelo significado da palavra “errado” e pelo silencio e a incontrolada impaciência que o professor tinha em ensiná-la. Mas o que deixa Sofia feliz é ver-se auto-suficiente, ela gosta de manipular os outros com a sua diabólica inocência, gosta de chamar atenção, e o seu objetivo era descobrir o que ela era. O professor é um desafio, ela quer mostrar-se superior ao restante da sala. Era inquieta pode-se perceber isso pelo que fala a empregada – Essa não é flor que se cheire. E acima de todos os aspectos era uma criança, com pressa de crescer e com desvio de personalidade querendo ser única.

O que Sofia era:

“Uma criança, nove anos e pouco, e roía as unhas, exultante. O jogo sempre me fascinava. Estudar eu não estudava confiava na minha vadiação sempre bem sucedida, a verdade é que não sobrava tempo para estudar, as alegrias me ocupavam. Havia a esperançosa ameaça do pecado.Meu fio de esperança era que ele não soubesse o que eu tinha feito, assim como eu mesma já não sabia, na verdade eu nunca soubera.”


O que ela queria ser:

“Passei a me comportar mal em sala – cale-se ou expulso a senhora da sala – Pode me mandar e ele não me mandava se não estaria me obedecendo. Meu único instrumento era a insistência. O jogo de torná-lo infeliz já me tomara demais, até que meus risos foram definitivamente foram substituindo minha delicadeza impossível. Permanentemente ocupada em querer e não querer ser o que eu era, o professor só podia admirar, mas eu não prestava, ali estava eu a menina esperta demais, tudo o que em mim não prestava era o meu tesouro.”

O que a ‘personagem’ pensava que era?

“Ser o objeto do ódio daquele homem que de certo modo eu amava, eu me tornara seu demônio e seu tormento, estava sendo a prostituta e ele o santo. Eu me tornara a sua sedutora, pela vida crua e cheia de prazeres, tomava o intuitivo cuidado com o que eu era, já que eu não sabia o que eu era. A tudo que ele dizia eu respondia com o olhar direto, o que me enchia de um poder que me amaldiçoava. Eu estava começando a tirar a moral das histórias, eu só sabia usar minhas próprias palavras. Eu era o único eu, estavam pedindo demais da minha coragem só porque eu era corajosa, pediam minha força só porque eu era forte, mas e eu? Enfim liberta da alma suja de menina. Nunca saberei o que eu entendo.”

O que ela achava do professor?

“As palavras me tentam e me modificam. Era de se lamentar que tivesse caído em minhas mãos erradas a tarefa de salvá-lo pela tentação, minha vida com o professor era invisível, seria para as escuridões da ignorância que eu seduzia o professor? Fingindo a custo me esquecer, mais contraído ficasse de tanto autocontrole, e aquele era o homem de minha vida. O novo e grande medo. Perplexa e a troco de nada eu perdia meu inimigo e sustento. Preferia sua cólera antiga que me ajudara na minha luta contra mim mesma. Pela primeira vez eu estava só com ele, sem o apoio cochichado da classe, sem a admiração que minha afoiteza provocava. O sorriso como um menino que dorme com os sapatos novos, ele nem ao menos sabia que ficava feio quando sorria. Confiante, deixava me ver a sua feiúra, que era sua parte mais inocente. Tão cheia de garras e sonhos, coubera arrancar de seu coração a flecha farpada. Para que te serve essa boca cruel de fome? Para que te servem essas mãos que ardem e prendem? para ficarmos de mãos dadas, e olharem intimidados antes de se aconchegarem um no outro para amar e dormir.”

O que o professor achava de Sofia?

“O tesouro que é só descobrir. Você... Você é uma menina muito engraçada. Você é uma doidinha. E aquele homem grande se deixara enganar por uma menina safadinha, acredita como eu nas grandes mentiras. Você é uma menina muito engaçada, você é uma doidinha. Era como um amor. Não eu não era doidinha, a realidade era meu destino, e era o que em mim doía nos outros.”